Por vezes penso que quando te procuro estou simplesmente a tentar achar-me. É viciante querer encontrar o caminho a seguir, tendo como guia a tua voz. Escorrego na palha seca quando toda a gente escorrega na molhada. A raiva que tenho ao meu mundo deixa-me impávida e serena, a raiva aumenta. Leio tantos poemas e textos e nunca nos encontro. São tristezas, amores banais, saudades não sentidas, amores carnais com uma folha de papel… são tantas as frases sem sentido, que leio da boca dos outros, que por vezes sinto que já não escrevo nada que valha a pena alguém ler. Deixo essa missão para os escritores, os poetas maiores. Eu apenas me quero encontrar… Vou falando com as pedras do meu caminho, abraçando as papoilas que dançam na beira da estrada e procuro-me. As rosas são as minhas confidentes, elas sabem que procuro algo que responda com o timbre da tua voz. Talvez tivesses ficado por aqui, eu sei que ficaste. Pelo menos sinto-te no meu peito… sempre no peito… onde guardo tudo o que me dá a vida. Mas a voz vem apenas com a brisa. Peço ao mar para soprar, mas ele não sopra, está zangado comigo porque deixei de chorar. As lágrimas pararam, o rio secou e o mar está com medo de morrer. Ele teima em que eu devo chorar lágrimas salgadas. Nega-se a trazer-me notícias de ti, do outro lado. Está zangado, é mau, mas eu não choro. Dedico-me agora àquilo que acredito, vou deixando as letras espalhadas em folhas de árvores mortas para que o vento as una e forme as palavras certas, sem erros. Pois agora também já não sabemos onde está o erro da palavra, consequentemente o erro da vida. Tudo está metido no mesmo saco. Não vale a pena escrever se depois não sabem ler. Não vale a pena chorar só para o mar não morrer. Não vale a pena chamar-te porque sei que não vens. Deito-me ao lado do rio, que secou, e oiço-te correr… fico a olhar o céu na ilusão que ele ainda é azul. Deixo-me ficar à espera da noite para confirmar que as estrelas ainda brilham. Sorriu, afinal o que todos escrevem é verdade… as estrelas brilham à noite e o céu é azul e o rio corre em silêncio porque está seco. Mas esses que se dizem poetas não sabem que tu és o rio e que correste para o céu porque quiseste fugir do mar para este não soprar a brisa de ti até aqui, ao meu peito. E que à noite o que brilha são os teus olhos que se riem do mar, que está zangado. Afinal, os que escrevem não sabem nada, mas gritam muito e eu deixei de te ouvir… e agora perdi-me…
segunda-feira, 29 de junho de 2009
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